quinta-feira, 2 de setembro de 2010

COMIDA E ARQUITETURA II

Como eu disse, há um milênio, quando comecei a falar do jantar do sul da França, naquela noite o tema paralelo à gastronomia foi arquitetura. Surgiu naturalmente. A Juliana mora em um prédio do Rino Levi. Paulistano, descendente de italianos, nascido no início do século XX, Levi foi pioneiro e um dos principais nomes da arquitetura moderna na cidade. Em 1936, ele já fazia prédios de linhas retas, formas limpas. Ele é autor dos projetos do Cine Ipiranga e do Teatro Cultura Artística. O prédio da Ju é do fim dos anos 50, muito bacana.
Entre os convidados, havia dois arquitetos, o Eduardo, o meu senhorio de Ubatuba, e a Flávia, mulher do Fran, primo da Ju. No apartamento em frente ao da Juliana, mora o Beto, filho de outro grande arquiteto paulista, o Joaquim Guedes, professor da FAU. Segundo o Edu me contou naquela noite mesmo e depois eu conferi na internet, Joaquim ficou bastante conhecido por um projeto para o plano piloto que participou para a concorrência da contrução de Brasília.
O Beto também era convidado. Ele foi meu chefe anos atrás na Folha de S.Paulo. Quando a Ju mudou para lá, há pouco mais de um ano, nós nos reaproximamos. A gente se encontra sempre no Bar Balcão, de onde ele é sócio. E os dois, incitados pela minha pessoa, há tempos falavam de fazer uma festa de portas abertas. Foi o que acabou acontecendo.
O apartamento dele foi de seu pai, que morreu há uns dois anos. Virou uma excursão. O Edu e a Flávia tinha sido alunos do Guedão, como ele era conhecido no meio, e ficou claro que tinham uma admiração muito grande por sua obra. O Eduardo diz até que tem bastante influência do Joaquim Guedes até hoje em seu trabalho -- esta semana saiu uma reportagem em um especial da Arquitetura & Construção sobre a minha casa de Ubatuba (vou fazer um post daqui a pouco juntando com a história do teste do livro da Borgonha, que aconteceu lá na semana passada). No caso do apartamento, ele fez duas coisas muito interessantes, descascou tudo e deixou só no concreto (eu adoro prédio e casas de concreto aparente) e subiu o piso, o que valorizou muito a janela (que já é ampla) e a vista (espetacular do Jardim Europa).
Enquanto estivemos lá, a Ju ficou na cozinha, coitada. Quando voltamos, ela já estava um pouco em pânico. Eram 23h e o primeiro prato não tinha saído. Tinha a anchoïade, que é aperitivo, umas castanhas, uns tremosos para ir engando a fome da galera. E o vinho continuava rolando.

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