terça-feira, 31 de agosto de 2010

UM POUCO DE PRÁTICA

Antes de qualquer coisa, vamos dar um encerramento aos posts do jantar do Sul da França, que já aconteceu há mais de dois meses. Encerramento não é bem o termo, porque posso (e vou) voltar ao tema algumas vezes. Mas farei uns dois ou três posts finais contando o desfecho da noite. Só aquilo que é publicável, é claro! Os amigos podem ficar sossegados.
Em algum momento, eu disse que o único prato que eu tinha feito havia sido a trilha. Isso não é de todo verdade. Como prova a foto, eu dei uma mãozinha no preparo da anchoïade. Para quem não lembra, naquela noite, na casa da Juliana, o cardápio era fougasses aux olives (pão de azeitona), anchoïade (patê de anchovas), tchektchouka (pimentão e tomate refogados), boullaibaisse (sopa de peixe) e rougets de roche en feilles de vigne (trilha em folha de uva).
Como eu disse, o grande erro da noite foi não tirar as espinhas da trilha. Mas o livro não falava nada a respeito. Também já contei que eu tomei um tantinho de vinho das 19h até de madrugada. então, algum dificuldade que a Juliana possa ter tido talvez tenha me escapado. Aliás, ela tem escapado é de traduzir essas receitas e comentar direitinho como foi realizá-las. Mas o principal, acho que eu sei:

Erro número 1: Deixamos para comprar a farinha de grano duro que vai nas fogasses na tarde em que íamos prepará-las. eu só cheguei com a tal farinha às 19h.

Conclusão: Desistimos de sequer tentar fazer esse pão. A farinha está lá. Falamos toda hora em retomar o teste.

Erro número 2: Depois de algum debate, chegamos à conclusão de que as anchovas, por não serem secas e salgadas, como mandava a receita e, sim, em óleo, não precisavam ser dessalgadas. Achamos até que devíamos usar parte do óleo em que ela é conservada.

Conclusão: A anchoïade ficou muito forte, gostosa, porém forte. Pedi, então, que a Ju batesse uma maionese, o que, segundo ela, atrasou ainda mais o jantar. Quanto á anchova Beira-Mar, vale comentar que, apesar de nacional e razoavelmente barata, ela era bem boa. Foi comprada no Mercado de Pinheiros no Entreposto da Feijoada.

Erro número 3: Tanto no momento das compras quanto na hora de servir, esquecemos que a tal da anchoïade era acompanhada de crudités (cenoura, pepino, rabanete, aipo crus).

Conclusão: O equilíbrio do jantar ficou prejudicado. Faltou algo fresco.

Erro número 4: O pré-preparo dos vários pratos de uma refeição deve ser feito ao mesmo tempo, segundo a urgência e possibilidade de antecipação de cada procedimento. No caso da tchektchouka, deveríamos ter grelhado os pimentões à tarde, antes de começar tudo. No caso da trilha, eu podia ter decapitado, limpado e enrolado os bichinhos logo que cheguei. Mas acho que a Ju preferia não ver esse espetáculo.

Conclusão: O jantar saiu na hora em que saiu: o último prato, às 2h.

Erro número 5: Esquecemos de fazer o molho da trilha.

Conclusão: Ninguém notou, porque tinha tanta espinha que esse era o menor dos problemas.

Críticas ao livro, a minha principal é em relação ao fato de não avisarem que é fundamental tirar um milhão de vezes todas as espinhas da trilha. Talvez a Ju tenha alguma outra.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

RECEITA DE SUCESSO



A 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo encerrou no domingo com um público de 740 mil pessoas em dez dias de evento. É muita gente! Será que esse povo todo gosta mesmo de ler? Sei lá! Quando estive na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) há duas semanas fiquei emocionada de ver tanta gente no auditório do Ferreira Gullar, ver filas na Livraria da Vila montada na cidade para o evento, gente andando pelas ruas históricas e falando de literatura. Mas sempre há que se considerar que, em Parati, o cenário ajuda, entre uma palestra e outra dá para passear de barco, você é visto sentado num café.

Digamos que o Parque de Exposições do Anhembi não tem esse charme. Tanto interesse em cultura pode parecer bom demais para ser verdade, mas deve ser verdade. O que mais alguém iria fazer no Anhembi em dia de bienal que não ver livros, ouvir autores falarem sobre livros, negociar livros (é claro), comprar livros?
Este ano deve ter tido alguns glutões que, como eu, foram à bienal com interesse principal voltado para os livros de comida. E para a programação de palestras do salão "Cozinhado com palavras", que reuniu grandes chefs, como Emmanuel Bassoleil, autor do livro Os sabores da Borgonha (Editora Senac).


Mas gostar de livro de receita não é pecado. Grandes intelectuais também se deixaram seduzir pelos encantos da culinária. O sociólogo Gilberto Freyre, por exemplo, até escreveu um: Açúcar, uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do nordeste brasileiro, lançado em 1939 pela José Olympio e reeditado em 2007 pela Global Editora. No ano passado, a Editora Senac, em parceria com a Fundação Gilberto Freyre, lançou um volume com artigos sobre a relação de Gilberto com a comida e receitas que Magdalena Freyre, sua mulher, preparava no casarão da família em Apipucos, no Recife.
Na quinta-feira passada, 19 de agosto, estive na bienal com a intenção de descobri todos os lançamentos de gastronomia para uma matéria que estou fazendo e para o blog também. Quando cheguei estava tendo a palestra À mesa com Gilberto Freyre, com Raul Lody, organizador do livro do Senac, e Josué Souto Maior Mussalem, da fundação. Então, como Gilberto Freyre tinha sido tema da Flip e eu ainda estava muito envolvida com aquele clima de amor à cultura, pensei em unir as duas coisas e fazer um pequeno jantar teste com as receitas desse livro, que não é um lançamento, mas tudo bem.



Na sexta-feira, eu estava indo para Ubatuba sozinha. Lá encontraria Eduardo, meu senhorio. O Edu é um arquiteto amigo meu de quem eu alugo a casa. Achei que podia fazer o teste só para nós dois mesmo. E que daria para unir com um livro muito interessante que o Edu me deu sobre a comida da população do litoral, Cozinha caiçara, encontro de histórias e ambientes, de Larissa Vianna Ferreira e Layra Jamkosky.
Então, taquei os dois livros na mala. Levei também o livro do Bassoleil, porque pensei em fazer um post sobre a palestra que ele deu no "Cozinhando com palavras" junto a Claude Troisgros e Laurent Suaudeau.
No fim, acabamos ficando com vontade de comer comida francesa. E, no domingo, fizemos um teste de uma receita do livro da Borgonha. Num próximo post, eu conto como é tentar fazer uma receita borgonhesa em Ubatuba, num domingo, com todo o comércio fechado. Aí, a receita na prática é bem outra!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

NO TEMPO DA CONFIANÇA

Não sei quem lembra que faz pouco mais de um mês estive em Pirenópolis em Goiás para o festival de gastronomia. Adorei a cidade, a comida, a vontade das pessoas de fortificar a sua cultura. Devo dizer que só não gostei de ter comprado uma máscara de uma artesã local, pagado e não ter recebido até hoje. Tenho confiança que ela ainda vai me mandar, porque lá as coisas funcionam na confiança. De qualquer forma, eu voltarei lá assim que puder. Além de tudo, não tive tempo de ir a uma cachoeira e há várias cachoeiras em Pirenópolis.

Este post é para contar que a Márcia, chef do Le Bistrô em Pirenópolis, me mandou o um email avisando que entre 16 e 19 de setembro vai haver o Slow Filme Filme Festival Internacional de Cinema e Alimentação Pirenópolis, com exibição de 15 filmes de vários países como Irã, Hungria, Sérvia e Dinamarca. A entrada é gratuita. Será o primeiro festival brasileiro de cinema inspirado na cultura slow food e boa parte dos filmes exibidos vem são títulos premiados no festival italiano Slow Food on Film, inéditos no Brasil. Desde 2002, acontece um festival de cinema relacionado ao tema, em Bologna, na Itália. O movimento Slow Food prega o retorno à tradição alimentar, à vida simples e em harmonia com a natureza. Os filmes serão exibidos no Cine Pireneus. eu andei navegando pelo youtube vendo alguns trailers como o publicado no alto deste post e gostei muito. Veja sinopses abaixo:

A REVOLUÇÃO DA BOCA (Mouth Revolution) USA, 2006, vídeo, 5 min Direção: Louis Fox
Em todo o mundo, elas estão finalmente botando a boca no trombone. Estão de saco cheio das porcarias que comemos e clamam por comida de verdade, comida orgânica – agora! No papel de portões do corpo humano, as bocas estão tomando uma atitude e protagonizando um “cala-bocaço” internacional até que suas reivindicações sejam cumpridas. A revolução da boca começou! Viva a “bocavolução”!
Desde 1996, o diretor Louis Fox vem produzindo numerosas campanhas publicitárias e mais de 80 desenhos animados de curta metragem relacionados com os temas sustentabilidade, justiça e paz. Seus filmes já foram vistos online por milhões de expectadores e vários já foram premiados mundo afora.
AINDA HÁ PASTORES? Portugal, 2006, DVCPRO, 73 minutos Direção: Jorge Pelicano
Há lugares que quase não existem. Casais de Folgosinho nem sequer é um lugar. Lá não há luz elétrica, água encanada, muito menos estradas asfaltadas. Perde-se no silêncio de um vale entre as montanhas da Serra da Estrela. Hoje, os mais velhos estão morrendo e os jovens fogem da dura sina de ser pastor. Hermínio, 27 anos, vai contra esta corrente. Mas até quando? Depois dele, os pastores ainda existirão? As histórias deste vale guardam esta resposta.
Nascido em Figueira da Foz, Portugal, em 1977, o diretor Jorge Pelicano atualmente trabalha como câmera no canal português SIC e cursa mestrado em jornalismo na Universidade de Coimbra.
BACKWARDS HAMBURGER EUA, 2006, 5 min, Cor. Direção: Richard Linklater
O filme segue a vida de um hamburguer e acompanha todo o passado do alimento, indo até sua origem (a vaca confinada) e identificando os custos ambientais, de saúde e de segurança dos trabalhadores que entram na fabricação de um Big Mac. Um olhar bem-humorado sobre alguns dos fatos mais preocupantes e os valores que cercam a indústria do fast-food. Uma comédia que investiga não só os riscos para a saúde, como também o preço social embutido em cada hamburguer.
Roteirista e diretor auto-didata, Richard Linklater é um dos primeiros e mais talentosos diretores a surgirem no cinema independente dos Estados Unidos na década de 90. Nascido em Houston, Texas, Linklater abandonou a educação formal aos 22 anos de idade, indo trabalhar numa plataforma de petróleo no Golfo do México. Anos depois, em 1987, criou um cineclube na cidade de Austin, Texas, quando começou também a produzir seu primeiro filme. É apontado como uma das vozes mais potentes da cultura jovem norte-americana.
BASIL & NETTLES Holanda, 2008, 28 min, Cor. Direção: Leyla Everaers
Elenco: Sylvia Hoeks, Raymond Thiry
Julie nunca conheceu seu pai. Quando ele chega, por coincidência, à aldeia onde ela vive com sua mãe, ela tem que pensar muito: quer mesmo conhecê-lo depois de tantos anos?
Antes de ingressar na Academia Holandesa de Cinema, em 2003, Leyla Everaers estudou design gráfico em Roterdã durante quatro anos. Entre 2006 e 2007, trabalhou com assistente de direção de vários filmes até poder dedicar-se a seus próprios projetos. No momento, dirige outro filme para a Academia Holandesa de Cinema
CAFÉ 469 (Kafe 469) Irã, 2005, DV, 5 min Direção: Atefeh Khademolreza
Vencedor na categoria curtas em 2006, o filme conduz o espectador pela mente de uma terrorista iraniana que, ao entrar em um café munida de uma câmera escondida, passa a meticulosamente registrar e descrever os movimentos de cada um dos clientes que ali fazem sua última refeição.
A diretora Atefeh Khademolreza nasceu em Teerã. Aos 25 anos, já participou de vários projetos cinematográficos.
MAMÍFERO (Mammal) Alemanha, 2007, DVCPRO, 7 min Direção: Astrid Rieger
Neste curta-metragem sem diálogos, angústias adolescentes são descritas através de imagens surrealistas que retratam as tentativas de um jovem de se desprender de uma intrigante relação com uma mãe dominadora. Dirigido pela romena Astrid Rieger, Mamífero recebeu menção honrosa na competição de curtas de 2008.
Graduada na Academia de Design Offenbach, na Alemanha, desde 2006, Rieger trabalha como free-lancer nas áreas de cinema e mídia.
MONDOVINO Argentina/França/Itália/EUA, 2004, 135 min, Cor. Direção: Jonathan Nossiter
Documentário que investiga os vários temas ligados à globalização, a partir da ótica da indústria do vinho e a transformação das formas de produção no velho mundo, influenciadas pelo mercado norte-americano. Cineasta e sommelier, Jonathan Nossiter aponta a influência, principalmente sobre a vinícola Mondavi, da indústria que contrapõe tecnologia e manipulação humana e tradição. Mondovino é um filme sobre a complexidade das relações humanas e sobre a política e a guerra entre a diversidade e a padronização da produção. Mostra a verdadeira batalha que se trava entre os pequenos produtores e as grandes indústrias. Mondovino foi indicado à Palma de Ouro de Cannes, em 2004, e ao Prêmio César, em 2005.
Nascido nos Estados Unidos, Jonathan Nossiter cresceu entre França, Grécia, Itália, Inglaterra e Índia. Realizou quatro longas-metragens, entre os quais Sunday, vencedor do Grande Prêmio dos festivais de Sundance e Deauville, em 1997, e Signs&Wonders, com Charlotte Rampling, de 2000, exibido no Festival de Berlim. Atualmente, mora no Rio de Janeiro, com a esposa e três filhos.
OURO NEGRO DA FLORESTA Brasil, 2010, 52 min, Cor.
empresa produtora: Start Filmes Direção: Delvair Montagner Produção executiva e montagem: André Luís da Cunha Direção de fotografia: André Lavenéré Trilha sonora: Marcelo Guima Filme sobre o cultivo do açaí e o cotidiano dos pequenos agricultores do município de Igarapé Miri, no Pará. O plantio, o manejo, a coleta e o transporte, desta que é a principal fonte de renda da região.
PIG ME
Dinamarca, 2008, 2D, Animação, 7 min, Cor.
Direção: Mette Rank Tange, Ditte K. Gade, Jorge Israel Hernández García Figueroa, Marie-Louise Højer Jensen, Rebecca Bang Sørensen
Elenco: Rebecca Bang Sørensen, Ditte K. Gade, Marielouise Højer Jensen, Mette Rank Tange, Israel Hernández García Figueroa
O filme conta a história de um porco que foge do massacre na casa onde vive. Encontro seu caminho e vai parar numa loja de animais, onde descobre um ambiente tranquilo e confortável entre os clientes e os outros bichos. Ele também deseja encontrar seu próprio lar, mas quem é que vai querer comprar um porco? Talvez a única solução seja disfarçar-se de outro animal, na loja de bichinhos de estimação...
SEU BENÉ VAI PRA ITÁLIA
Brasil, 2006, 53 min, Cor.
De Teresa Corção e Manoel Carvalho
Documentário sobre a vida de Benedito Batista de Silva, 60 anos, lavrador da pequena agricultura familiar, considerado uma referência local quando se fala em produção de farinha de mandioca no Estado do Pará. Identificado para o mundo gastronômico, através do Projeto Mandioca da chef Teresa Corção, Seu Benedito foi protagonista no documentário O Professor da Farinha. Esse documentário rodou o mundo, e proporcionou o convite para participar do evento Terra Madre realizado em Turin / Itália pelo Slow Food. O documentário mostra a viagem deste pequeno agricultor desde sua cidade natal, Bragança, no Pará, até o seu retorno.
Este filme é um projeto do Instituto Maniva/Slow Food Rio de Janeiro.
SOMOS AQUILO QUE PERDEMOS (Mi smo ono to izgubimo)
Sérvia, 2005, DV, 5 min 32s Direção: Srdjan Mitrovi
Um dia você resolve visitar aquela vovozinha simpática que mora na sua rua bem na hora em que ela está preparando uma refeição deliciosa. Com este filme, vencedor na categoria curta-metragem em 2006, o diretor Srdjan Mitrovi prova que a comida sérvia é capaz de reunir as famílias durante a vida e além dela.
Nascido em Belgrado, em 1969, Mitrovi é graduado em edição de TV e atualmente compõe a equipe de criação da TV B92, de Belgrado. Além disso, faz parte do júri no Festival Internacional de Filmes Fantásticos de Bruxelas.
TERRA MADRE Itália, 2009, 78 min, Cor. Direção: Ermanno Olmi
Um mestre do cinema mundial (diretor da obra-prima A Árvore dos Tamancos) dá seu ponto de vista sobre o grande tema da alimentação e suas implicações para o desenvolvimento econômico, ecológico, social. Um documentário de clara investigação autoral. O filme reflete sobre uma rede global de pessoas, pensamentos, trabalho e culturas presentes em 153 países do mundo, que vão semeando e cultivando as idéias para proteger a biodiversidade, o ambiente e a comida decente para um futuro de paz e harmonia com Natureza.
Ermanno Olmi começou sua carreira na década de 50, dirigindo documentários, tendo assinado 40 deles. Em 1961, dirige seu primeiro filme de ficção, Il Posto. Seguiu-se, em 1963, I Fidanzate, primeira indicação à Palma de Ouro em Cannes, que ele viria a conquistar em 1978, com Árvore dos Tamancos, vencedor também do prêmio César. Sua carreira inclui 65 títulos como diretor.
THÉ NOIR (Black Tea) França, 2007, HD, 5 min, P&B Direção: Serge Elissalde
Chá preto: ou como uma simples xícara de chá pode provocar uma terrível crise de angústia.
Melhor filme de animação do Festival Banjaluka 2009 e Primeiro Prêmio no Slow Food on Film Festival 2009.
THE PRAYER (IMÁDSÁG) Hungria, 2007, 27 min, Cor. Direção: Sándor Mohi
Cinco anos na vida de um casal de agricultores idosos no interior da Hungria. O filme captura a profunda humanidade dos personagens, as emoções simples, expressando sua dor. Envolve o espectador em suas vidas e mostra a estreita relação dos protagonistas com a terra. O diretor dedicou cinco anos a filmar diariamente o cotidiano do casal. Prêmio de Melhor Curta Documentário no Slow Food on Film Festival 2009.
Diretor e fotógrafo, Sándor Mohi nasceu em Budapeste e dirigiu também As God Hath Foreordained... Film of Olga, de 2000.
Um dos Últimos (One of the last) Itália, 2007, MiniDV, 12 min, Cor. Direção: Paul Zinder
Elenco: Mauro Selvetti
O filme é um retrato de Mauro Selvetti, um camponês italiano de 78 anos, que se dedica à colheita de azeitonas, uvas e cerejas em sua fazenda. Emoldurado pela beleza da paisagem italiana, Mauro oferece histórias e conselhos, provando ser um homem sábio e um profundo conhecedor da terra.
VINHO DE CHINELOS Brasil, 2008, 45 min, Cor. Direção: Paula Prandini
Documentário sobre a recente produção do vinho brasileiro na Serra Gaúcha. A partir do filme, é discutida a identidade do vinho nacional, que vem se desenvolvendo nos últimos anos, mas ainda é alvo de críticas e preconceitos.
A fotógrafa carioca Paula Prandini, 38, já foi modelo, morou no Japão e em Paris, teve restaurante, trabalhou em jornais e revistas, passou férias sozinha em Trancoso e fotografou Diários de Motocicleta. Casada com o cineasta Jonathan Nossiter.
IMPRENSA:

domingo, 15 de agosto de 2010

MARINADA


A 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou na quinta-feira e vai até 22 de agosto. Eu gostaria de ter ido visitá-la neste fim-de-semana. não consegui. Vou tentar dar uma passada amanhã. Então, por enquanto, o que tenho a dizer é que o mercado editorial nunca deu tanta atenção à gastronomia na história. Este, como na feira de Frankfurt, a Bienal de São Paulo tem toda uma área dedicada à gastronomia.
O salão "Cozinhando com palavras" (http://www.bienaldolivrosp.com.br/Programacao-Cultural/Arena-Gastronomica-/), cujo curador é o editor André Boccato, vai reunir uma série de atividades que relacionam letras e panelas. Nada mais adequado para este blog. Então, pretendo acompanhar com carinho essa arena gastronômica.
O número de lançamentos na área é enorme. Estou pensando em fazer um jantar teste com os principais. Nas fotos ao lado, o novo livro de Gordon Ramsay (Ediouro) e um mundo só de chocolates (Senac-SP). Os restaurantes da cidade também estarão com programação literário gastronômica. No Dona Onça, por exemplo, você se senta à mesa com Monteiro Lobato. Este post é só uma marinada, só para começar. Vamos continuar com o assunto.

DO QUE NÃO TEM TANTA IMPORTÂNCIA NO UNIVERSO...

...mas de que eu gosto muito
Já que estou falando de minha visita a Paraty para a Flip e deixei a gastronomia totalmente de lado em meu último post. Vou me distanciar ainda mais da receita deste blog e falar de algo que não tem nada a ver com livros ou com comida. Mas vai ser rapidinho, prometo. Só vou aproveitar para comentar que abriu uma loja da Ave Maria em Paraty. A Ave Maria, para quem quer saber, é uma confecção de Minas Gerais, que não tem loja em São Paulo. Tem em BH, Tiradentes e Trancoso. Não sei se já tem no Rio.
Sempre que vou a Tiradentes compro algo deles. Já entrevistei o estilista, o Zepa. É um sujeito bem inteligente, sem nada da afetação desse mundinho fashion. Seu trabalho reflete muito a cultura da região. É moderno, mas tem muito do barroco. Ele usava santo e imagem religiosa muito antes do Gaultier. A coleção que vi em Paraty me pareceu deslumbrante. Mas o Marcos ia ficar de muito mal humor se eu parasse para experimentar e os preços não eram dos mais convidativos. Mas vou voltar com calma.

Ave Maria - Rua do Comércio, 308, Centro Histórico, tel.: (24) 3371-0118, http://www.lojaavemaria.com.br/

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

DA IMPORTÂNCIA DAS COISAS NO UNIVERSO



Se eu não postar hoje, acho que não escrevo neste blog nunca mais. Está difícil. Estou trabalhando tanto que na hora em que vou blogar, o olho fecha sozinho. Mas resisti e agora acho que acordei. Tenho muito o que falar. Terminar a história do jantar do sul da França, contar como foi o teste das receitas. Mas, para isso, eu dependo em boa parte da Juliana e ela também parece estar trabalhando para caramba. Devia explicar direito porque não fizemos o almoço thai em outro dia. Mas não tem muita explicação, simplesmente, não deu. Meus horários, os da Cláudia e os da Carolina não bateram. Tem uma história de um festival de cinema e gastronomia em Pirenópolis que espero falar logo. E tem a Bienal do livro, que este ano tem todo um setor dedicado á gastronomia. Não falta assunto.
Mas quero falar de minha passagem pela Flip (para quem não sabe, Festa Literária Internacional de Paraty) no fim de semana passado. O que tem muito a ver com livros, mas nada com gastronomia. Mais uma vez, me dou ao direito de fugir da receita. Em oito anos de existência da festa, eu nunca tinha ido à Flip . Eu vou sempre a Paraty, alugo uma casa em Ubatuba que é do lado e conheço o Mauro, organizador do evento, desde a adolescência. Mas nunca tinha ido à Flip. No entanto, devo deixar claro: sempre tive vontade de ir. Só que as pessoas me diziam que parecia carnaval de Salvador. Isso desanima qualquer um que realmente goste de literatura.
Este ano, no entanto, não foi bem a literatura que me atraiu à Flip. Digamos que o que me levou a Paraty foi o meu côté mais junkie. A idolatria por alguns anjos decaídos. Aliás, as atrações principais desta oitava edição não eram o que se pode chamar exatamente de ortodoxas em termos de literatura. No sábado à noite, ou seja, no horário nobre, os palestrantes convidados eram o roqueiro Lou Reed e os cartunista underground Robert Crumb, criador do Fritz The Cat, um velhinho que (fiquei sabendo naquela noite) é tarado por bundas enormes, e Gilbert Shelton o criador dos Freak Brothers, os três maconheiros mais famosos da história, mentores de gerações e gerações de malucos. Como era no mesmo dia, comprei ingresso também para a mesa do poeta maraenhese Ferreira Gullar. Comprei esse ingresso porque eu me lembrava de, há uns dez anos, ler o seu Poema Sujo rapidamente a caminho do Rio de Janeiro para entrevistá-lo para a revista República. Lembrava de desembarcar no Galeão com aquela sensação de maravilhamento que só as grandes obras de arte nos dão, de estar com aquela vontade (que a gente costuma ter quando gosta muito de um livro) de falar com o autor e de achar mágico o fato de que eu realmente estava indo falar com o autor. Lembrava que a entrevista tinha sido ótima, quase tão emocionante quanto a leitura do poema. Mas era uma vaga lembrança. Como qualquer emoção, o embevecimento intelectual se apaga com os anos.
Sábado saí de Ubatuba com o Marcos e a Mariana, meu irmão e minha cunhada. Chegamos na hora do almoço e fomos direto para o Punto Divino, um italianinho bem bom na Praça da Matriz, encontrar com o Ivan e a Juliana. Cheguei, pedi um vinho, um nhoque, que fazia anos que eu não comia, e ficamos naquela coisa gostosa de uma tarde meio friozinha. Aí começou a dar preguiça. O Lou Reed é tão mal elemento que nem apareceu no evento. Então, eu tinha ingressos para duas mesas: a do Ferreira às 17h15 e a do Robert Crumb e do Gilbert Shelton às 19h30. A Mariana ia comigo à mesa da noite. O Ivan, que é amigo do Marcos de infância, estava ali a trabalho, cobrindo a festa para a Folha de S. Paulo. Marcos e Juliana também queriam ver os velhinhos cartunistas, mas não tinham ingresso. Comecei a me arrepender de ter comprado o ingresso para o Ferreira Gullar. Fora o Ivan, que tinha uma reunião, o povo ia continuar por ali, papeando. Todo mundo torceu um pouco o nariz para o Ferreira Gullar. "Meio chato...", "Essas coisas que ele escreve na Folha..."
Mas resolvi ir. Cheguei um pouco atrasada, me sentei e comecei a ouvir o poeta falar. Não demorou muito, para eu ir sendo tomada por aquela sensação de conexão com algo superior que a gente tem quando está diante da arte que nos toca de verdade. Ferreira Gullar não falou de nenhuma daquelas coisas que ele fala na Folha. Não falou de política. Falou só de arte no mais profundo sentido da palavra, do que leva os seres humanos a fazerem arte, de como a arte o toma, de como ele tenta, mas não consegue controlar essa relação. Leu trechos do Poema Sujo (veja vídeo abaixo) e de um poema de seu livro novo que sai este ano.
A noite foi legal, mas longe de ser memorável. Todo mundo conseguiu ingresso. Como eu disse (e como todo mundo está careca de saber), o Lou Reed não apareceu. A entrevista com o Robert Crumb e o Gilbert Shelton teve um sério problema: a participação da mulher do Crumb, que também é cartunista. A condição para ele participar do evento deve ter sido que aquela chata subisse ao palco. Pena! Mal ouvimos as histórias das doideiras da dupla nos anos 60. Shelton falou um pouco dos tempos em que todo mundo tomava ácido na redação do jornal e ele se mantinha "limpo" para conseguir desenhar os seus Freak Brothers (foto ao lado). Falaram de Janis Joplin, muito amiga de Shelton. Da notória preferência de Crumb por traseiros avantajados e de sua atual e, segundo ele mesmo, vexaminosa condição de pouco interesse no sexo oposto. Tudo muito previsível. O que valeu a pena mesmo, eu quase perdi por preguiça. A seguir, Gullar recitando um trechinho do Poema Sujo.




sexta-feira, 6 de agosto de 2010

CB do B

Todo mundo acha que eu tive a ideia deste blog por causa do livro ou do filme Julie & Julia. Não foi. A ideia veio antes de eu saber da existência dos dois. Quer dizer, já tinha ouvido falar, mas não sabia direito do que se tratava. Pensei em fazer um blog testando receitas numa madrugada em que eu estava fechando a revista Casa e Comida.





Eu tinha feito uma entrevista com Diegos Beldas, sócio e chef do Casa Belfiore, na Barra Funda, bairro paulistano hoje invadido por baladas, e estava conferindo as receitas dos bocadillos do bar roqueiro. Eram a coisa mais sofisticada do mundo. Pensei: "Meu Deus! Quem vai conseguir fazer isso?" Mas já não dava tempo de tirar a receita. E valia muito dar a nota. O bar era ótima e a comida surpreendente. infelizmente, pouco depois, o Casa Belfiore fechou.
Ontem, encontrei Diego na padaria. Daqui a um mês ele abre um novo restaurante: o Rothko, na esquina da Wizard com a Harmonia, na Vila Madalena, em São Paulo. Abaixo, foto de um peixe que Diego andou testando e publicou em seu site http://www.rothko.com.br/

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A TRILHA QUE LEVA A TOUR EIFFEL



Nunca fiquei tanto tempo sem postar nada. Só quando o pintor me expulsou de casa e eu me refugiei nos meus pais. Estou trabalhando feito uma camela. Está certo que camelos não almoçam no La Brasserie Erick Jacquin e jantam no Baby Beef Rubayat a trabalho, como aconteceu comigo na quinta passada. Nem são "obrigados" a degustarem um montão de vinhos, como eu vou ter de degustar amanhã (tecnicamente hoje à noite) na feira da importadora Decanter, o Decanter Wine Show. Mas, sério, ando trabalhando muito e nem tudo que eu faço é gastronomia. Além disso, por mais prazeroso que seja, o trabalho com gastronomia não deixa de ser trabalho e também cansa. Nas redações, muitas vezes, os outros jornalistas não acreditam nisso.
Mas chega de me lamuriar e vamos ao lado bom da vida. Como eu disse, na quinta passada almocei no Jacquin (foto) e jantei no Rubayat. No post anterior, contei a história da coincidência de, no dia que fiz o jantar do sul da França, encontrar com o Jacquin no supermercado Santa Luzia e perguntar a ele se o tal peixe rouget de roche (minha receita é em francês) era mesmo a trilha como me havia dito o peixeiro, ele confirmar e na quinta ter justamente uma salada da tal da trilha (foto acima) no menu executivo do seu restaurante. Vocês entenderam? Se não, leiam o post anterior onde essa história está melhor explicada. (Adoro fazer isso!! Nas revistas e jornais, eu não posso!) A trilha foi o último prato do jantar do sul da França. Mas, devido a essa coincidência toda, vou falar primeiro dele. Esse prato fui eu quem fiz. Os outros todos foram feitos pela Ju. Sugiro que vocês dêem uma olhada na receita (post charuto de peixe, de 15 de julho).
A trilha é muito gostosa. O grande problema é que ela tem muita espinha -- muita, muita, muita, de não dar para comer. O Jacquin disse que na França o povo chega e já pergunta se tiraram todas as espinhas. O meu francês é pobre. Pior que meu espanhol. E o livro que usamos era em francês. Por isso, fiquei sem saber direito se a gente estava fazendo a coisa certa ou não. Continuo sem saber. A Ju ainda não me mandou as traduções das receitas. Mas, pelo que eu entendi, a receita não fala nada de espinha. Nem menciona que isso é um problema. Se alguma alma caridosa que estiver lendo este blog souber bem francês, por favor, me diga (mas me diga aqui, nos comentários, para os leitores verem, não por e-mail), está dito nessa receita que é para tirar as espinhas? Eu não tirei. Como era para assar, achei que o peixe ficaria mais firme se fosse assado com a espinha dorsal inteira e que, depois, o povo podia tirar tudo de uma vez só na mesa. Ledo engano! Foi um tal de enfiar a mão na boca, levar o guardanapo à língua.

Fazer o tal do bichinho foi difícil. A começar que eu tive de decapitar as trilhas uma por uma. A Ju não tem coragem de fazer isso. Eu também não gosto muito. Mas me enchi de braveza (e vinho) e mandei bala! A Carolina filmou, mas não saiu nada.
Depois, teve a história de branquear a folha de uva. Eu branqueava uma folha, enrolava um peixinho. Na hora de enrolar o seguinte, esquecia que tinha de branquear a folha. Talvez isso tenha a ver com o fato de que comecei a fazer esse serviço quase à meia-noite e de que estava tomando vinho desde às 19h. O Fran, primo da Ju, foi meu assistente. Eu enrolava a folha, ele passava o barbante. Mas, no fim, tudo deu certo. O peixe ficou lindo e muito gostoso (veja foto abaixo do prato pronto). Só as espinhas mesmo atrapalharam.






















Segundo o Jacquin, eu deveria ter tirado todas as espinhas. "Você abre o peixe ao meio", explica ele, em entrevista exclusiva para A receita na pratica é outra (chique, né?). "Puxa a espinha dorsal e, depois, com uma pinça vai tirando as espinhas que sobraram uma por uma. O segredo é ter um copo d'água na frente para ir limpando a pinça."
"Nossa Jacquin! Você devia cobrar R$ 120 pelo seu menu executivo", disparei (O menu custa R$ 46) diante do fato de que a trilha da salada não tinha uma espinha sequer. "Sabe quanto tempo eu levo para limpar 5 kg de trilha? ...Quinze segundos! Hahaha! Chego na cozinha e falo: limpa!Hahaha! Limpar trilha é horrível mesmo. Eu trabalhei num restaurante em Paris que o patrão adorava limpar trilha. A gente saía, voltava, e ele estava lá, limpando..." Eu talvez devesse imitar esse exercício de paciência do antigo patrão de Jacquin. Se tivesse passado a tarde limpado as trilhas, nossos convidados não teriam jantado às 2h. A meu favor tenho a dizer que o tal restaurante onde o Jacquin trabalhou era o Le Toit de Passy. Me dêem a vista do Le Toit (o Sena e a Torre Eiffel) e eu passo o dia limpando trilhas.


La Brasserie Erick Jackin: http://www.brasserie.com.br/home.html

Decanter Wine Show: (http://www.decanterwineshow.com.br/html/informa.html)