quinta-feira, 29 de julho de 2010

SINCRONICIDADE


Ontem escrevi sobre a trilha, sobre o meu encontro com o chef Erick Jacquin no Santa Luzia e de como ele me explicou que o rouget des roches era a trilha. Hoje fui almoçar no seu restaurante para fazer uma entrevista. O que tinha no menu executivo? Salada de trilha. Linda, deliciosa, um milhão de vezes melhor que a minha, é óbvio. Conversei um monte com ele sobre esse pequeno peixe vermelho. O chef do La Brasserie Erick Jacquin deu várias dicas de como prepará-lo.
É um luxo ter o Jacquin me ensinando a cozinhar, não é? Amanhã ou depois escrevo sobre isso. Agora vou dormir. Beijos e boa noite.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

AS TORTUOSAS TRILHAS DA GASTRONOMIA


Por um lado, foi bom o almoço asiático de domingo não ter acontecido. Assim tenho tenho tempo de continuar escrevendo sobre o jantar do sul da França no meu ritmo slow food de ser. Claro que muitos leitores são marinheiros de primeira viagem. então, só para ninguém ficar completamente por fora, vou lembrar que nesse jantar eu e a Juliana testamos uma receita de rouget des roches em folha de uva. A gente não tinha a mais pálida ideia de que peixe era esse e o seu José, o peixeiro do Mercado de Pinheiros, vendo uma foto do Google Image no meu iPhone, nos disse que era trilha.
Compramos a tal da trilha, mas tanto eu quanto a Juliana tínhamos de nos certificar. Ela consultou o livro 1001 Comidas para provar antes de morrer, edição de Frances Case. Muito bom para quem cozinha e realmente se interessa em saber mais sobre os ingredientes.
Já eu arrumei uma maneira bem mais inusitada de checar essa história. Depois do mercado, eu fui à massagem e, depois da massagem, ao Santa Luzia, o supermercado que os paulistanos que mexem com gastronomia sabem que é tudo de bom. Nós não tínhamos achado folha de uva fresca no mercado e eu tinha esperança de achar (como realmente achei) no Santa Luzia.
Eu estava estacionando o carro e vi Erick Jacquin passando. Na hora, pensei em parar para perguntar sobre o rouget des roches, mas já tinha gente buzinando atrás. Por sorte voltei a encontrar com ele lá em cima. E, dessa vez, não tive dúvida. "Jacquin", perguntei. "O rouget des roches é a trilha?". "Sim", respondeu o chef francês. E falou qualquer coisa sobre esse peixe ser muito bom, mas muito difícil de encontrar. "Eles exportam tudo", reclamou. Me senti orgulhosa de novamente ter encontrado um ingrediente complicado.
Aqui é bom explicar. Eu não sou íntima do Jacquin, mas tinha almoçado em seu restaurante, La Brasserie, dois dias antes com o grupo dos "pelados em Nice" e jacquin conhece bem o Sultão. Essa situação toda foi muito sul-realista. De alguma forma, me lembrou da cena do filme Noivo nervoso, noiva neurótica, do Woody Allen, em que dois personagens estão numa fila de cinema discutindo a teoria do filósofo canadense Marshall McLuhan, o próprio está ali e é chamado à conversa.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

AINDA BEM QUE EU SOU PROFÉTICA...

... e dei o nome que dei a este blog. Assim eu não me estresso quando as coisas dão errado. E elas dão errado. Das outras vezes, os jantares-testes atrasaram. Desta, o almoço-teste (programado para ontem) nem aconteceu. Fomos para a chácara da Cláudia. Passamos um sábado delicioso, mas, no domingo, ela acordou super doente e tivemos de desmarcar tudo.

De qualquer forma valeu. No sábado testamos alguns ingredientes que serão usados nas receitas tailandesas e vietnamitas (serão, porque vamos remarcar). Eu fiz um camarão com erva-cidreira, pimenta dedo-de-moça, saquê culinário, molho de ostra, óleo de gergelim, molho de soja e alho que ficou bem bom.

Tentamos também uns rolinhos primavera. O recheio eu inventei seguindo mais ou menos uma receita. Mas o teste mesmo foi a dobradura da massa. Claro que os que eu enrolei pareciam um pacote de açúcar. Os da Cláudia também não ficaram lindos. A Carolina foi quem chegou mais perto de um rolinho de verdade.

Além disso, tomamos belos vinhos e conhecemos gente ótima. As duas coisas ao mesmo tempo. Luiz e a Patrícia, vizinhos da Cláudia e do Je, almoçaram conosco e trouxeram dois Chateau Les Hauts-Conseillants 1999 para tomarmos. À noite, enquanto eu, Cláudia e Carol preparávamos as sobremesas do dia seguinte (bolo de banana e arroz com feijão branco doce), se juntaram a nós também o Donald e a Lúcia, da casa em frente.





Pena que no domingo o gran finale não aconteceu. Mas para mim, o domingo foi bem gostoso. Eu tinha convidado o Gledson, aquele meu amigo dos EUA, o Eduardo, que também estudou com a gente em Illinois, a Juliana, mulher dele, e o Otávio para o nosso almoço. Quando liguei para desmarcar, eles já estavam a caminho. Então, marcamos um almoço no Embu no restaurante Buenos Aires. A cidade fica um pouco cheia demais por causa da feira de artesanato. O mas a churrascaria argentina é ótima. Os donos são os fundadores do Martin Fierro, um clássico em São Paulo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS






Carolina, Cláudia e eu durante o almoço em minha casa





Domingo vai acontecer mais um teste de receitas deste blog. Desta vez, não será um jantar. Faremos um almoço na chácara de Cláudia, uma amiga do curso que faço na Associação Brasileira de Sommeliers. Há umas semanas, Cláudia e Carolina (alguém lembra dela do jantar mediterrâneo na casa da Juliana) vieram almoçar na minha casa para darmos uma olhada na minha pequena biblioteca gastronômica e escolher o menu.

Era uma quarta-feira e tínhamos aula às 14h30. Dona Maria fez um lombo delicioso (foto) e Raris 7 grãos pra gente, eu preparei uma salada de alface, manga, amendoim e manjericão com molho de gengibre, shoyo e wasabi (invenção própria). E para acompanhar, tomamos espumante brut da Cave Aliança. De entrada, fiz uma guacamole. Não preciso dizer que mal olhamos para os livros. No fim, Cláudia levou alguns livros de comida oriental e outros de cozinha cajun para decidir em casa. Venceram os orientais, então, amanhã o cardápio será o seguinte:


Aperitivos

Sauce à la pâte de crevettes (Nam Prig B hug) - alho fresco, pimenta tailandesa, kapee, suco de limão, sucre roux, nam pla, camarão seco em pó) - com legumes crus ou cozidos

Nam prik phao com mandiopã de camarão

Entradas

Sopa de abóbora - abóbora-japonesa, cogumelos secos, sementes de lótus, peito de frango, presunto, caranguejo, caldo de galinha, gengibre moído, pimenta-do-reino preta

Riz croquant en sauce (Khow tung nah tung) - bolinhos de arroz fritos; molho: leite de coco, carne de porco, camarão, pasta de alho, nam pla, açúcar, cebola, amendoim

Pratos principais


Poisson au tamarin et au gingembre (Tom Som Pla) - cavala, chalota, kapee, pimenta moída na hora, gengibre, suco de tamariindo, nam pla, açúcar mascavo, cebola
Costela de porco com erva-cidreira - porco, cebola, alho, pimenta dedo-de-moça e erva-cidreira

Sobremesas

Arroz cremoso com feijão branco - feijão branco do Vietnã, arroz tipo moti, açúcar, leite de coco

Boulettes de taro au coco (Kha Nom Bua Loy) - inhame ou cará, fécula, leite de coco, açúcar branco, açúcar mascavo, pitada de sal


Bananes à la thaïlandaise (Sala Thai Gluy Chium) - banana, açúcar, rum, creme
Bolo de bananas com sorvete de creme ou canela


Sei que, novamente, é um banquete e que eu havia dito que da próxima vez faria algo mais simples para não demorar tanto. Mas, desta vez, teremos o sábado inteiro para preparar tudo. Esperemos para ver no que dá. Na próxima semana, termino a série sobre a França e começo esta. Até lá.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ÀS COMPRAS: PEIXARIA DO MERCADO




Rosa, a atendente da peixaria Nossa Senhora dos Pescados: em dia de copa do mundo o movimento era baixo
















No caminho do Mercado de Pinheiros, a Juliana veio me convencendo a tirar a erva-doce do peixe em folha de uva e da boullabaise.
"Eu não gosto de erva-doce e você também não", disse ela.
Realmente não sou muito amiga.
"Mas e a receita?", perguntei. "A ideia do blog é, pelo menos, tentarmos seguir a receita."
"É muita erva-doce", insistiu ela. "Vai tomar o gosto de tudo".
"Não dá para tirar, Ju. No meio de tudo, não vai nem aparecer"
"Então, vamos pôr menos do que manda ali", voltou ela.
"Tá bom", cedi. "E vamos declarar o seguinte no blog: 'A Juliana não segue receita..."
"E a Tânia também não..."
É a mais pura verdade. Nem eu nem a Ju somos do tipo de seguir receita. Amigas desde a época de colégio, uma conhece muito bem a outra. E ambas raramente agem conforme manda a receita -- isso vale para tudo, não só para o fogão.
"O nome do blog, afinal, é A receita na prática é outra. E, na prática, a Tânia e a Juliana não seguem receitas à risca", me justifiquei. Na verdade, a ideia do blog não é impor nada. É, mais que tudo, me divertir e divertir meus amigos. Então, se a anfitriã não gosta de erva-doce, por que insistir?



Decidido isso entramos e tivemos uma ótima surpresa. Logo de cara, encontramos a distribuidora de Pescados Nossa Senhora de Fátima que tinha tudo que a gente precisava e um tanto mais, inclusive o rougets des roches. Vendo a fotografia no google image do meu iphone, seu José, o dono da peixaria, teve certeza que o tal peixe era a trilha, um peixe pequeno e vermelho, que ele tinha. Mas só congelado.


Além da trilha, compramos côngrio, robalo e corvina. A Juliana já tinha badejo congelado em casa. Tudo de muito boa qualidade. E com uma variedade enorme. Têm produtos de alto padrão como vieiras ou bottarda. E eles entregam em boa parte dos bairros de São Paulo.


Se você passar por lá, não esqueça de pedir o livrinho de receitas da própria casa. Ainda não testei nenhuma. Mas já li e aprendi um monte de coisas. Além das receitas, o livro traz uma série de dicas de como reconhecer um peixe fresco, como limpá-lo, prepará-lo, congelá-lo. Muito bom.






Distribuidora de Pescados Nossa Senhora de Fátima - Mercado Municipal de Pinheiros, boxes 68/69/70, rua Pedro Cristi, 89, tel. 11-3031-3837, e-mail: nsrfatima@terra.com.br


segunda-feira, 19 de julho de 2010

COMIDA E ARQUITETURA I

Ou como comprar peixe também é cultura







Relendo o post passado, me bateu a curiosidade de saber mais sobre o prédio do Mercado de Pinheiros. Nesse post eu falo que, no Mercadão, há lindos vitrais e que, no Mercado de Pinheiros, as bancas são bonitinhas. Foi meio injusto meu comentário. A arquitetura do prédio do Mercado de Pinheiros me despertou meu interesse . Gostei especialmente do telhado de vidro e das rampas a la Bienal. O projeto do Mercadão é do Ramos de Azevedo, acho que o maior mito da arquitetura paulistana: projetou o Teatro Municipal, a Pinacoteca do Estado, a Casa das Rosas, entre outros prédios espalhados pela cidade. E o Mercado de Pinheiros de quem é?

Por que falar disto agora? Nesta série, a arquitetura acabou se metendo entre meus livros e panelas. Assim como aconteceu com as artes plásticas na série de comida peruana. Lá fiz posts sobre a exposição do Aguilar e sobre street art. Coisas que me chamaram a atenção enquanto estava envolvida com meu teste de receitas sino-peruanas, no percurso que fiz em busca dos ingredientes.

Neste caso, o tema subjacente só poderia ser arquitetura, a começar pelo local onde o jantar foi realizado e pelos convidados. Falarei de ambos em posts futuros. Voltemos ao Mercado de Pinheiros. O prédio é obra de Eurico Prado Lopes e Luiz Benedito Castro Telles, os mesmos arquitetos que fizeram o Centro Cultural de São Paulo, outra bela edificação com seu telhado/jardim verde. Esse espaço, ao que parece, tem sido bastante bem aproveitado pela população de São Paulo. Estava na cara que a concepção do edifíco do Mercado de Pinheiros era de alguém bacana. O projeto é de 1968 (fotos acima). O mercado foi inaugurado em março de 1971.

Na verdade, o mercado foi reinaugurado. Só o prédio era novo. O mercado existe desde 1910. Antes funcionava ali do lado, juntinho ao Largo da Batata, onde hoje está a avenida Faria Lima. Na época, era conhecido como “Mercado dos Caipiras”. Seu nome verdadeiro é Mercado Municipal Engenheiro João Pedro de Carvalho Neto. O prédio dos anos 70 já passou por reformas e hoje tem 4.196 m² de área de vendas, 1.742 m² de estacionamento, 39 boxes (empórios, mercearias, casas de frios e laticínios, bancas de frutas, verduras e legumes, açougues, peixaria, avícola, lanchonete e floricultura) e um deck com mesas ao ar livre no segundo andar. Cerca de 500 pessoas passam por lá todos os dias.

Mercado de Pinheiros - De seg. a sáb. das 8 às 18h. Rua Pedro Cristi 89, Pinheiros, São Paulo, SP, tel. 55 (11) 3518-9096.

ÀS COMPRAS: MERCADO DE PINHEIROS







Por incrível que pareça, eu nunca tinha ido ao Mercado de Pinheiros na minha vida. Nasci, cresci e sempre vivi em São Paulo. Passo direto na frente desse mercado, mas nunca tinha entrado. Marcada minha.

Havia um tempo que eu sabia que tinha de consertar essa falha no meu currículo. O Beto e a Thaís, dois amigos que fazem sempre almoços na casa deles, já haviam me falado que o lugar é o máximo. E eu confio no gosto deles. O Beto é um engenheiro que virou professor de karatê e está quase virando chef. Então, quando eu e a Juliana falamos em comprar os peixes e outros ingredientes que estavam faltando no sábado de manhã, pensei logo no Mercado de Pinheiros. Primeiro porque eu queria conhecê-lo e falar dele neste blog. Segundo, porque ele é bem mais próximo que o Mercadão tanto da minha casa quanto da da Ju, além de ter estacionamento. E tanto ela quanto eu temos sérias dificuldades de acordar cedo nos sábados. Eu sabia que, por mais que combinássemos, de manhã, de manhã, essas compras não iam rolar.

Era o primeiro sábado da copa (olha como tá demorando para postar tudo deste jantar!). A Ju queria estar de volta em casa para ver não sei que jogo. Eu tinha massagem às 13h. Fizemos um esforço brutal e conseguimos chegar no mercado perto do meio-dia. Novamente, tinha de ser corrido. Mas isso, neste mercado, não foi um problema. Ele tem tudo, mas é pequinininho. Super limpo, super arrumado. Cheio de variedade. Gostei muito. Não tem os vitrais lindos do Mercadão, mas percebe-se que há até uma preocupação estética com a arrumação dos produtos nas bancas.

Em um post de novembro de 2009, em seu blog e-Boca Livre, o antropólogo Carlos Alberto Dória reclama que o mercado está acabando, que estão tirando bancas de frutas, verduras, carnes, peixes, para colocar lanchonetes, lojas de sabão. O Dória é um dos estudiosos mais sérios dos hábitos alimentares brasileiros. Se ele diz, deve ser verdade. O Mercado de Pinheiros deve ter sido melhor no passado. Mas ele ainda é bom. Sem dúvida melhor que os supermercados e que a maioria das feiras.

Mercado de Pinheiros - De seg. a sáb. das 8 às 18h. Rua Pedro Cristi 89, Pinheiros, São Paulo, SP, tel. 55 (11) 3518-9096.

e-Boca Livre: http://ebocalivre.blogspot.com/

sábado, 17 de julho de 2010

ÀS COMPRAS: CEASINHA


Não foi só o prato principal que saiu tarde no jantar de teste do livro Cuisine du Sud, que eu e minha amiga Juliana demos na casa dela. Foi tudo meio corrido. O jantar aconteceu num sábado. Na quarta-feira, nós ainda nem tínhamos definido o cardápio. A Ju queria ir à feira que acontece no Ceagesp(Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) às quartas à noite. Então, como já contei lá atrás, marcamos de nos encontrar na casa dela, escolher as receitas que faríamos e, de lá, seguir para o Ceagesp.
Nas quartas à tarde, tenho aula de sommelier na ABS. A Carolina, uma colega de curso que eu já apresentei em um post passado, me deixou na casa da Juliana. Lá decidimos pelas receitas publicadas em posts anteriores desta série: uma caçarola de pimentões e tomates chamada tchektchouka, uma foccacia de azeitonas, a anchöiade ou patê de aliche, uma boullabaisse e os rougets de roche en feuilles de vigne, uns peixinhos enrolados em folha de uva, para quem não lembra. Até chegarmos à essa conclusão, acabamos saindo da casa da Ju tarde e chegando ao Ceasinha (antigamente o Ceagesp se chamava Ceasa) mais de nove da noite. Isso sem ter traduzido as receitas. Detalhe: a feira acaba às 22hs.
Como a Juliana já foi professora de francês, fez uma lista rápida dos ingredientes e pôs no bolso. Só que, no caso dos peixes, não adianta saber falar francês. É uma questão de conhecê-los. Então, enquanto ela dirigia, fui googando no meu celular para ver se descobria o nome em português daquele monte de peixe. A lembrar: rascasse, grodin, loup, congre, vive..., para a bouillabaisse, e rouget des roche, para assar com folhas de uva.
"Estou vendo quels sont les poisons", soltei toda contente em mostrar minha expertise com a tecnologia e gastar o meu francês. "Se você quiser colocar poison na sua comida, você põe, eu me recuso", disse a Ju. Na hora, percebi a idiotice que eu tinha dito: poison é veneno, peixe é poisson. Na França, é sempre bom lembrar disso antes de ir à peixaria.
Quando não encontro a tradução do nome de um animal ou de um vegetal nos dicionários online, meu método de pesquisa é o seguinte: vou no google, digito o nome em francês ou espanhol, como foi no caso do jantar peruano. Procuro algum artigo que tenha o nome científico do bicho ou da planta. Pego esse nome e dou um novo google. Muitas vezes, vem um artigo em português sobre o tal ingrediente. Mas isso nem sempre funciona. Nem sempre é tão fácil achar artigos com nome científico. É meio demorado. No percurso da casa da Ju até o Ceasa, só encontrei a tradução para loup. Com a foto ao lado, descobri que se tratava de um Dicentrarchus labrax, que nada mais é que um robalo.
Achei que tinha conseguido descobrir o que era o rouget de roche também. Pelo que vi rapidamente, o Mullus surmuletus em português se chamaria salmonete. Mais tarde descobri estar errada. O que não fez a menor diferença naquele dia porque chegamos ao Ceasinha super tarde. A Ju, na verdade, queria comer pastel e tomar caldo de cana. O lugar é uma festa mesmo. As barracas de pastel, acarajé, comida japonesa e uma série de outras coisas ficam cheias de gente. Encontramos até uns amigos de adolescência da Juliana. Mas a feira em si, tivemos de fazer em 10 minutos. Em todo caso, o peixe era melhor comprar no sábado mesmo. E os vegetais não eram tantos. Achamos tudo, menos as folhas de uva. Os pimentões vermelhos também não estavam muito maduros. Eu nunca tinha ido a essa feira. Gostei, mas não amei. Não achei tão barata, nem tão variada. O legal é que é à noite. Para uma alma boêmia como a minha, pode ser a única forma de frequentar uma feira. Quem sabe quando o frio passar!

Varejões do Ceagesp
Av. Dr. Gastão Vidigal, 1946 - Vila Leopoldina, São Paulo, SP
sábados: 7h às 12h30 - domingos: 7h às 13h – no Pavilhão MLP – entrada pelo portão 3
quartas-feiras: 16h às 22h – no Pavilhão PBCF – entrada pelo portão 7
Estacionamento Gratuito

quinta-feira, 15 de julho de 2010

CHARUTO DE PEIXE




No Jantar que eu e Juliana fizemos para testar as receitas do livro Cuisine du Sud, este bicho foi o que mais deu trabalho. A começar pela tradução. Demoramos até descobrir que peixe é o rouget de roche. E eu só vou contar para vocês que peixe amanhã ou depois, quando eu for falar das compras. Senão perde a graça. Se alguém ficar com muita raiva disso, me manda uma mensagem que eu digo. (Se alguém não sabe, eu sempre publico a receita no original. A tradução é parte importante do processo. Muita receita vira outra justamente aí).
Depois deu trabalho para encontra. Deu trabalho para fazer. E deu um trabalhão para comer. já adianto que ele tem muuuuuito espinho. Pelo menos, o que eu comprei tinha. Mas o sabor é bom. Então, aí vai a receita.

ROUGETS DE ROCHE EN FEUILLES DE VIGNE
Pour 6 personnes
Temps de preparation: 15 minutes
Temps de cuisson: 10 minutes

24 feuilles de vigne
2 citrons non traités
12 rougets de roche écailles et vidés
14 tiges de fenouil frais
15 cl d'huile d'olive
40 g de câpres au vinaigre
Sel, poivre du moulin

Faites blanchir les feunilles de vigne 3 minutes à l'eau bouillante. Rafraîchissez-les et êgouttez-les à plat sur papier absorbant.
Prélevez le zeste des citrons(EI!NOS INGREDIENTES ELA NÃO FALA DE ZEST DE CITRON ALGUM. EU NEM VI ISSO QUANDO COZINHEI. NÃO LEMBRO!); pressez leur jus. Préchauffez le gril du four.
Salez et poivrez l'intérieur des rougets. Glissez-y une tige de fenouil et un petit morceau de zeste de citron (OH, O ZEST AQUI DE NOVO!). Huilez les poissons et enveloppez chacun d'eux dans deux feuilles de vigne. Ficelez-les et faites-les griller 8 à 10 minutes sous le gril du four (ou au barbecue), en les tournant à mi-cuisson.
Préparez la sauce: mélangez le reste de l´huile d'olive, le jus des citrons, deux tiges de fenouil ciselées et le câpres finement hachées. Salez et poivrez.

Counseil: si les rougets viennent d'ètre péches, il est inutile de les vider, car leur foie est délicieux.

Variante: les feuilles de vigne peuvent être remplacéss par des feuilles de figuier.
Présentez les rougets dans leurs feuilles de vigne.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

UM PRATO BÁSICO


A cozinha maravilhosa de Ofélia
As 1000 receitas mais famosas e saborosas
Ofélia Ramos Anunciato
Editora Melhoramentos


Ofélia Anunciato era a nossa Julia Childs. A cozinha maravilhosa de Ofélia, o programa de culinária que manteve por 30 anos na TV Bandeirantes, atual Band, influenciou gerações de donas de casa e cozinheiros amadores.
Obra póstuma, este livro reúne receitas de outros livros seus. O impressionante é como ele é eclético. O que você procurar tem. Tem a bouillabaisse -- e é por isso que estamos falando deste livro aqui na série de post sobre o Sul da França. Mas tem também rabada, carne-de-sol com quiabo, tempura, tiramisú, cheesecake com goiabada e por aí vai. Se você pretende ter só um livro de cozinha na vida, este é uma ótima opção. É uma ótima escolha para quem está saindo da casa da mãe para morar sozinho, para donzelas casaidoras (e donzelos casadoiros), homens separados. Gente que, à diferença da minha pessoa, segue receita. Tem de tudo um pouco.
Dêem uma olhada na bouillabaisse. Hoje estou fazendo uma picaretagem. Cansada para digitar tudo, estou postando uma foto da página da receita. Caso alguém não consiga ler, pode gritar que eu refaço este post amanhã. Mas, se der certo, vai facilitar muito a minha vida. Além disso, incluí o link para o único vídeo da Ofélia que encontrei no Youtube. Estranho isso, por que será que não tem mais cenas? Este é, na verdade, um clip. Não mostra uma receita inteira. Pena!

A RECEITA



O PROGRAMA



domingo, 11 de julho de 2010

LAS DELICIAS DE LA COCINA ESPAÑOLA








Na cozinha, ainda mais que no futebol, a Espanha bate um bolão. Em homenagem à vitória espanhola na Copa do Mundo, que tal uma taça de cava e umas tapas? Neste vídeo do portal Veja São Paulo, o chef Javier Torres, um dos gemelos donos do Eñe, ensina a preparar o tartar de ostras e as batatas bravas. Já provei os dois: são fantásticos. E eu nem sou muito de ostra. Já entrevistei os irmãos, que na Espanha comandam restaurantes estrelados no Guia Michelin, para a revista Época. São uma simpatia, adoram o Brasil e têm até um livro sobre a comida brasileira: Brasil a dois, Encontro da gastronomia catalã com a brasileira, de Javier Torres Martínez e Sergio Torres Martínez, Editora Senac. O livro é o resultado de uma longa viagem de pesquisa que a dupla fez pelo Brasil em 2005. Tem pratos tão criativos, mas simples, que estou considerando transformá-lo no objeto de um futuro jantar-teste. Nele, você encontra a receita do tartar de ostras, mas também a de um pastel de feijoada. A do tartar é só pegar no vídeo. A do pastel, dou aqui:




Pastel de Feijoada

rendimento: 5 unidades



Ingredientes

250g de feijão preto


100 g de linguiça calabresa curada


50 g de bacon magro


3 folhas de louro


20 g de alho


1 ramo de tomilho


100g de manteiga


5 folhas de massa para rolinho primavera (wonton)


50 ml de azeite de oliva


sal a gosto


modo de preparo

Cozinhar o feijão com as carnes e um bouquet garni feito com louro, tomilho e o alho. fazer um purê grosso com esse feijão e um pouco do caldo. Acrescentar a manteiga e temperar com sal a gosto. Cortar a massa com vazador redondo de 5 cm, rechear os pastéis com o purê de feijão e dobrar ao meio, apertando as pinceladas com água. Fritar no azeite até dourar.


Gostaria de fazer só um protesto: manteiga na feijoada não dá! Quanto à massa wonton, em São Paulo você encontra no bairro da Liberdade. Mas acho que se fizer com massa de pastel de feira fica bom também.

Eñe Rio - Av. Pref. Mendes de Moraes, 222, São Conrado, Rio de Janeiro, RJ, tel.: (21) 3322-6561. http://www.enerestaurante.com.br/
Eñe São Paulo - R. Dr. Mario Ferraz, 213, Jd. Europa, São Paulo, SP, tel.: (11) 3816-4333. O tatar de ostra custa R$ 22, a porção com quatro unidades.



BOUILLABAISSE COM SALMÃO

Sei que escrevi demais no post anterior. Então, prometo ser breve. Comprei este livro durante uma viagem a Quebec, no Canadá. Há uns anos estive por lá para encontra Sophie, que é repórter e tem uma coluna de economia no La Presse, o maior jornal de língua francesa de Montreal, e o resto de nossa turma de mestrado em jornalismo. Fazia 10 anos que havíamos nos formado na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos. No fim deste post, para quem eventualmente se interessar, fotos minhas e de meus amigos, no Canadá e nos EUA. Mas vamos começar pelo livro e pela receita.

O LIVRO

A taste of Quebec
Julian Armstrong
Hippocrene Books


De colonização francesa, a província de Quebec, cuja maior e mais conhecida cidade é Montreal e cuja capital é a cidade de Quebec, sofreu forte influência culinária da França. Os queijos, o paté de campagne, as terrines, o foie gras são presença forte na mesa local. Mas, como no mundo todo, a tendência é valorizar cada vez mais ingredientes locais como o maple syrup, o salmão, a blueberry.

A taste of Quebec revela essa cozinha única, praticada nos pequenos restaurantes e albergues das cidades e campos. Ressalta o produto local e apresenta chefs e produtores. A autora é crítica de gastronomia do jornal La Gazette, o maior de língua inglesa em Montreal. Talvez sophie a conheça. Não perguntei.

Como na França, eles também comem bouillabaisse. Mas, à diferença do colonizador, sua sopa de peixes leva salmão e bacalhau frescos, peixes dos mares, lagoas e rios frios que banham aquelas terras geladas. E ainda leve um pouco de coentro. Será um toque latino ou oriental? Não sei, sei apenas que condiz com o espírito cosmopolita daquele país, formado por emigrantes de todos os cantos.
A receita é do Auberge la Coulée Douce, uma pequena e simples pousada, na cidadezinha de Causapscal, no vale do Rio Matapedia, bem ao norte da província, acima da cidade de Quebec, quase no golfo onde o rio São Lawrence encontra o Atlântico. Pode variar de acordo com o que se pesca no dia e é servida com torradas com alho. Sempre muito quente. Pudera, por lá é frio que dói. No dia que estive em Quebec City era verão e estava quente. Mas Sophie me garantiu que aquele era "o" fim-de-semana de calor. Noventa e nove por cento do ano, é, no mínimo, fresco. e, no inverno, é gelado. Na foto ao lado, o refeitório do albergue.


Por lá, a pesca do salmão e da truta, são as grandes atrações turísticas. Salmão sempre existiu e não é de mentira como o que comemos por aqui, criado em fazendas totalmente anti-ecológicas e que facilitam a reprodução de pragas.


Bouillabaisse La Coulée Douce
8 servings

250 g salmon steak
250 g halibut steak
250 g cod fillet
500g raw shrimp, shelled, deveined
375 g shucked clams
250 g scallops, halved if large
3 tablespoons (45 ml) olive oil
2 onions, chopped
4 ripe tomatoes, peeled, seeded, and coarsely chopped
2 tablespoons (30 ml) chopped fresh parsley
1 tablespoon (15 ml) chopped fresh herbs, such as marjoram, oregano, basil, and chives
1/2 teaspoon (2 ml) ground coriander
Salt and freshly ground white pepper
8 cups (2 l) fish stock
1/2 cup (125 ml) white wine
Hot garlic toast as accompaniment

Cut salmon, halibut, and cod into 1-inch (2.5 cm) pieces. Combine with scallops, clams, and shrimp; set aside.
in a large stainless steel saucepan or stockpot, heat oil over medium heat and cook onions and garlic, stirring, for 3 minutes, or until softened. Add tomatoes, parsley, herbs, and coriander; season with salt and pepper to taste.
Add fish stock and wine; bring to boil. let simmer for 10 minutes. Add seafood misture; return to the boil. Reduce heat to medium-low and simmer for 5 to 8 minutes or until fish flakes when tested with a fork. Serve in large heated blows accompanied with garlic toast

TIP: Fish may be prepared up to 4 hours in advance and refrigerated.

A VIAGEM

Minha ida a Quebec foi um bate-e-volta. Fiquei por lá só uma semana, mas conheci bastante da região. Eu fui a primeira a chegar, a que vinha de mais longe. O resto do grupo era todo dos EUA. Nossa turma em Champaign era muito pequena: apenas 8 pessoas se graduaram em jornalismo impresso no meu ano. Dessas, 6 estavam presentes em nosso encontro: além de Sophie e eu, foram o Paul, a Annie, a Tammy e a Stephanie (não sei se estou escrevendo certo o nome dela. Droga de memória!). Sophie, na época grávida de 8 meses, mostrou mais disposição que todos e nos levou de cima para baixo.
O reencontro foi uma delícia. Além das conversas, a comida foi um forte da viagem. Em Montreal, jantamos em restaurantes modernos, visitamos mercados super franceses, almoçamos em pequenos vietnamitas. Depois, fomos à montanha, na casa dos pais dela. E, por lá, Sophie e seu marido, Vicent, cozinharam um lombo maravilhoso para nós. Ambos são bastante interessados em gastronomia. Por fim, fui a Quebec City só com Sophie, ficamos num Bed & Breakfast muito bonitinho, onde a dona nos cedeu um quarto extra para acomodar a grávida e nos serviu ovos poché deliciosos de café-da-manhã. Não saberia dizer nomes de restaurantes, mas lembro que comemos em ótimos bistrozinhos.
Mas chega de falar! Eis algumas fotos da viagem ao Canadá e outras dos tempos do mestrado em Champaign:

Ao fundo, Stephanie, eu, Annie e Sophie. Na frente, Tammy, Paul e Vicent. O grupo reunido na casa do lago, creio que durante o chá de bebê que fizemos para Sophie. As fotos são preto e branco, mas são recentes. Tammy é fotógrafa e tem essas manias.


Precursora da caipirinha sem álcool, eu fiz uma limonada no pilão para a Sophie que, por motivos óbvios, não podia tomar cachaça. O resto do grupo experimentou o drinque brasileiro comme il faut, ou seja, com pinga. Na época, não me preocupei em levar uma cachaça especial. Acho que levei velho Barreiro, 51 ou qualquer coisa assim. Falha no currículo de alguém metida a gourmet.



Para esse jantar, no campo, Sophie e Vicent tinham planejado nos servir lagostas. Para isso, teríamos de comprá-las vivas e matá-las na água fervente bem ali, na cozinha cuja bancada dava para a sala. Eu ameacei jogá-las no lago. Sophie garantiu que seria uma outra forma de matá-las, uma vez que elas são de água salgada e o lago, de água doce. Por fim, graças a Deus, o mercado estava sem lagostas naquele dia. O casal nos preparou um lombo, super macio e vegetais na churrasqueira. Aprendi ali que lombo também pode ser ao ponto.

O MESTRADO

Dez anos antes, Paul, Tammy e Annie, com nosso professor de arte, Carlos e (bem ao fundo) Rondha, que não compareceu á reunião, no museu de arte moderna de Indianapolis. eu estou batendo a foto e não sei onde está Sophie. Carlos quase foi nos encontar em Quebec. Não lembro por que não conseguiu.


Nesta outra foto, eu e Gledson. Ele não era da minha turma. Fazia doutorado em Economia. Mas decidi incluí-lo aqui porque tem muito a ver com minha história na cozinha. Brasileiro, ele foi meu roommate por um verão e meu grande companheiro de fogão. Durante os três meses que moramos juntos, tivemos convidados para jantar quase toda noite. Fazíamos cassoulet, comida árabe, feijoada. E comprávamos caixas de cava, que custava baratíssimo, US$ 4. De madrugada, depois das festas afterhours, sempre eu carregava um bando para nosso apartamento. E, fatalmente, aquela cava que estava na geladeira esperando uma ocasião especial era aberta e tomada, muitas vezes com morangos ou cerejas. O professor Mario Telles, da ABS, diz que não é uma boa harmonização. Para mim, tem o sabor daquele verão, ou seja, é tudo de bom.

Aqui só uma fotinho do Quad, a praça principal da Universidade. Só para vocês terem uma ideia. Fica em Ilinois, uma terra mais plana que tábua de passar. Por lá, se planta milho e soja, soja e milho. Chicago hoje tem bons restaurantes. Na época, não sei. Eu não tinha dinheiro. Champaign era uma desgraça em termos de comida. Acho que por isso aprendi a cozinhar. Mas tinha duas coisas que eu gostava muito: o burrito de porco do La Bamba (até hoje não comi melhor) e o hamburguer cajun de um boteco que não existe mais e que já esqueci o nome.

sábado, 10 de julho de 2010

A MINHA MADELEINE

De volta à minha pequena biblioteca gastronômica, saio buscando receitas diferentes de bouillabaisse. Como trata-se de um clássico da culinária francesa, tinha certeza de que não seria uma tarefa difícil. E não foi mesmo -- apesar de não ter encontrado uma versão do prato típico de Marselha nem no livro do Bocuse nem no do Roger Vergé, citados neste blog recentemente. Em compensação, achei uma bouillabaisse até no livro da Ofélia, a nossa Julia Child.

Mas, antes de chegar à Ofélia, esbarrei com dois títulos que mexeram com algo além de meu apetite, dois livros que trouxeram lembranças fortes. Um, The taste of Quebec, me fez recordar de minha viagem ao Canadá há uns anos e dos amigos com quem fui encontrar por lá. Outro, Dining with Proust, me levou ainda mais longe no tempo, aos meus 20 anos, quando passei quase dois anos lendo os sete volumes de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, o livro que mais amei na minha vida. Por falar nisso, é claro que os jantares (os vinhos, os amigos e, especialmente, a bagunça em torno dos testes de receitas) têm sido uma faceta bastante prazerosa de ter este blog, mas não a única. Há pelo menos dois outros aspectos que dão sabor todo especial ao projeto: as "gincanas" em busca dos ingredientes e os passeios pelas prateleiras de minha copa-biblioteca que sou obrigada a fazer em meio às minhas pesquisas. Estou gostando muito do que descubro e ainda mais daquilo que redescubro. Dêem uma olhadinha nos meus achados:





Dining with Proust
Jean-Bernard Naudin, Anne Borrel e Alain Senderens
Random House - New York









Bouillabaisse
Fish soup



Ingredients:
2kg fish pieces
(scorpion fish, gurnard, angler fish or
monkfish, wrasse or parrot fish, John Dory),
1kg conger eel,
2 whiting,
500ml (2 1/4 cups) mussels,
250 g onions,
1/2 leek (white part only),
1 stick celery,
1 fennel bulb,
2 large tomatoes,
4 garlic cloves,
175 ml (3/4 cup)olive oil,
4 pinches of saffron,
1 pinch of dry savory,
a good pinch of dry orange zest,
(30 ml) 3tbsp Pastis,
15 ml (1 1/2 tbsp) chopped broad leaved parsley,
salt and pepper.
Rouille:
5 cm piece of a baguette,
4 garlic cloves,
1 red pepper,
1 egg yolk,
90ml (9tbsp) olive oil


Ask your fishmonger for pieces of conger eel cut from near the head. There are too many bones at the tail end. Trim, clean, scale and wash all the fishClean the mussels (see page 138). Peel and rougnly chop the vegetables, seeding the tomatoes. Chop the garlicfinely. Heat half the olive oil in a large pot and gently brown the onions, leeks, celery, fennel, tomatoes and garlic. Add the conger eel and the rest of the fish, apart from whiting and mussels. Shake the pot in order to mix the ingredients. Add 3 l boiling water or fish stock, and bring to the boil. Add the saffron, savoruy and orange zest. After 10 minute add the mussels and whiting and cook for further 5-7 minutes. A minute or so before the cooking is finished, add the Pastis, parsley and remaining olive oil. Return to the boil and stir to blend in the oil. Season to taste. Discard any unopened mussels. To make the rouille, soak the bread in water, then squeeze as dry as possible. Peel the garlic, removing any shoots. wash, dry and seed the pepper. Grind the garlic and pepper together in a blender, then dip tip the resultant purée into a large, deep bowl. Add the crumbled bread and the egg yolk. Beat the misture as for mayonnaise, adding the olive oil drop by drop. Float the garlic croûtons spread with the rouille in the hot soup.




Não lembro em que ano comecei a ler Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. Foi em algum momento da época em que eu dançava no Aeroanta, no Rose Bombom e no Madame Satã; comia no Rock Dreams, no Otello e no Oscar; viajava para a Ilhabela e para Campos de Jordão. Na época em que estava começando minha carreira, trabalhando na Folha de S. Paulo. Lembro bem que, a primeira vez em que fui a Paris, procurei reconhecer os bulevares por onde passaram Swann, os Guermantes, Albertine. Creio que já tinha lido os sete volumes, pois acabo de lembrar que a Rosely, que me recebeu tão bem por lá, me contou sobre uma pesquisa mostrando que x intelectuais franceses não tinham terminado de ler a série. Fiquei orgulhosa, mas surpreendida. Para mim, Proust não tem nada de difícil. É puro prazer. Por mim, poderiam ser 14 volumes. Odeio me despedir dos personagens quando estou envolvida com um livro (engraçado, hoje isso acontece menos do que naquela época).
O romance, que tanto me encantou pela capacidade de descrever a sensação quase material que as reminiscências provocam em nosso espírito, há muito é para mim parte dessa massa nebulosa chamada memória distante. Está lá parado, naquelas madrugadas, quando chegava das baladas ou do jornal. Essas lembranças eram mais vivas e, por isso mesmo, mais urgentes (eu ainda sofria de síndrome de abstinência do universo proustiano) quando descobri Dining with Proust em uma viagem a Nova York. Quase morri de satisfação. O livro era o segundo de uma coleção inaugurada por La Cuisine selon Monet (na edição francesa), ou Monet's Table (na americana), de Claire Joyes e Jean-Marie Toulgouat, com prefácio de Joël Robuchon, também da Random. A Mesa de Monet (edição brasileira), eu conhecia bem, pois o tinha dado de presente ao meu namorado da época. Ele havia feito várias receitas do pintor. Eram muito boas. (Por sinal, eu não tenho esse livro, preciso comprá-lo. )
Do livro do Proust, também testamos alguns pratos. Sei ainda qual o gosto da Cassarola de carne que preparamos em Campos de Jordão. Mas foram poucos. Era o princípio desta era em que a gastronomia e o hedonismo passaram a reinar absolutos. Vieram livros, e mais livros, e mais livros de comida, um mais lindo que o outro, um com receitas mais atraentes que o outro. E minha boa intenção de aprender com os mestres acabou soterrada sob a pilha de novidades que até hoje não pára de crescer. Mas, como o Tio Patinhas que gosta de mergulhar na caixa forte cheia de dinheiro ainda que não gaste um tostão, eu adoro ver os meus livros de gastronomia mesmo sem nunca preparar um prato. Não é que eu não cozinhe. Como disse no início deste blog, eu cozinho e, até, bem. Mas improviso, não sigo receitas.
No entanto, mesmo sem ter testado a maioria das receitas, não tenho medo de afirmar que Dining with Proust é um dos livros mais bacanas de minha biblioteca gastronômica. Anne Borrel é uma autoridade no que se refere à obra de Proust e Alain Senderens, um dos chefs mais importantes da França até hoje. Vocês devem se lembrar de ouvir falar, em 2005, de um chef que devolveu suas três estrelas do Guia Michelin e passou a cobrar um terço do preço. Foi Senderens.

A receita de bouillabaisse transcrita acima parece ótima. Especialmente o tal rouille me deixou profundamente curiosa. Acho até que vou testá-lo num próximo evento. Um dia ainda traduzo a receita para vocês. Vou traduzir tudo junto, as em espanhol, as em francês e as em inglês, e fazer um bloco só de receitas. Um dia... Mas, mais do que a receita, o interessante aqui é o acompanhamento. Como todas as receitas de Dinning with Proust, essa vem acompanhada de um trecho de Em busca do tempo perdido, no caso, um trecho de Sodoma e Gomorra, o quarto volume da série. Para facilitar um pouco a vida de vocês, o reproduzo já na tradução de Mario Quintana (Editora Globo):

"Tínhamos na alameda de honra da Raspelière, onde o Sr. Verdurin nos esperava de
pé na escadaria. -- Fiz bem em vestir um smoking -- disse ele, verificando com
prazer que os fiéis tinham o seu, -- já que tenho cavalheiros tão chiques. --E
como eu me desculpasse de meu casaco: 'Ora! está perfeito. Aqui são jantares
entre camaradas. eu podia oferecer-lhe um de meus smokings, mas não lhe
serviria'. (...) -- Vamos, meu caro Brichot, entregue logo as suas coisas. Temos
uma bouillabaisse que não pode esperar."

Como boa parte dos volumes de minha biblioteca de cozinha, este não é um livro de receitas simplesmente. É um estudo sobre a obra de Proust. Uma análise feita a partir do papel que a comida assume nessa obra. Todo mundo, até quem nunca leu Proust, já ouviu falar da madeleine, o bolinho que o narrador comeu com chá e que o transportou à infância, disparando a avalanche de lembranças que constitui o livro. Mas há muito mais comida nessa história. Boa parte das cenas, dos diálogos, ocorrem ao redor de uma mesa, em geral suntuosa e cheia de iguarias. Era assim mesmo que as coisas funcionavam na Paris do fim do século XIX: os nobres, e alguns burgueses com ambições aristocráticas, organizavam lautos jantares para artistas e intelectuais. Os Verdurin representam esses anfitriões. Em Dinning with Proust Anne Borrel comenta que o personagem Swann, assim como Proust, era um dos poucos que via tudo isso com um olhar crítico, pois as outras "almas artísticas" que circulavam por esses salões "se levavam muito à sério". Acho que por isso gostei tanto de Em busca do tempo perdido. Eu mesma, muito garota, mas metida em círculos de "intelectuais" (alguns tão jovens quanto eu), sentia que, nos salões (ou porões) por onde eu andava, era impressionante como as pessoas se levavam a sério. Como Swann e o próprio Proust, eu não conseguia dispensar a vida social. Aliás, não consigo até hoje. Mas, graças a Deus, acho que hoje as pessoas se levam menos a sério, e eu não perco muito tempo ou pelo menos fígado, com gente que acha que sabe tudo. Bom, falando em se levar a sério, isto é um blog de comida, e de livros, mas mais de comida... Imagino que bem poucos estejam interessados em minhas considerações sobre os salões (ou porões) por onde passei.
Voltando ao livro, parece que sempre houve uma ligação forte entre literatura e gastronomia -- aliás, entre artes e gastronomia. Esse monte de frescuraiada, que hoje a gente vê em qualquer pessoa com dois tostões para comprar um vinho, seja qual for seu nível cultural, há muito é comum entre escritores e artistas. E este livro nos ajuda a entender um pouco esse fenômeno. Bom, ficou tarde, então, falo da bouillabaisse canadense e da versão da Ofélia em um próximo post.

terça-feira, 6 de julho de 2010

SANGUE GOURMET

Adorei o jantar de Bill Compton e o rei vampiro no segundo episódio da terceira temporada de True Blood. No cardápio, uma taça de sangue gelado carbonado, "cruelty free", de doador voluntário que só comeu tangerinas por semanas, acompanhando um prato de bisque morna de sangue em infusão de rosas. De sobremesa, gelatto de sangue. Podiam ter acrescentado morcilla ao molho pardo. Talvez não ficasse tão bonito e se perdesse a ideia da cena. Amo rituais. Mas que toda essa frescura em torno de uma refeição é meio ridícula, lá isso é!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

PARIS, MISSISSIPI

Interrompendo as séries sobre o sul da França e o Cerrado, vou falar de algo que me chamou atenção hoje aqui mesmo na tela de meu computador. Um post da Sofia no Facebook sobre o Le Jazz, um bistrozinho muito gostoso na rua dos Pinheiros, que o Gil, filho dela e do Mario, enteado do Josimar, abriu há alguns meses. Quem comanda a cozinha é o sócio dele, Chico Ferreira. Tenho ido bastante lá. A cozinha segue o estilo tradicional dos bistrôs parisienses: simples e bem-feita. Aqui no Brasil as pessoas confundem bistrô com restaurante chique. Bistrô na França é tão acessível quanto trattoria na Itália ou cantina nos bairros italianos de São Paulo. O post da Sofia traz um link de um vídeo com o Chiquinho dando uma receita de camambert empanado na Folha.com!

Pinheiros está virando um pólo do movimento por aqui conhecido como bistromania, formado por casas pequenas à frente das quais há jovens chefs saídos das várias escolas de gastronomia do Brasil e do mundo. Alguns como o Felipe Ribenboim e o Gabriel Broide, do Dois Gastronomia, e a Gabriela Barreto, do Chou, já provaram que têm talento e devem ir longe. Outros nem tanto. Mas, é claro, que não se espera que todos eles tornem-se grandes chefs. Se fizerem uma boa comida a um bom preço, está ótimo.


No Le Jazz, me agrada especialmente o fato de eles terem vinhos bons dentro da faixa de preço que posso pagar: entre R$ 45 e R$ 70. Tenho tomado o Quinta da Ponte Pedrinha 2005. Safra, boa quase no mundo todo, contribui, mas esse Dão é muito redondinho. Se não me engano, sai por $ 48. Comentei sobre esse vinho com o doutor Mario Telles, um dos meus professores no curso da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers), e ele disse que os vinhos dessa cave portuguesa são realmente muito bem feitos. Esse que eu tomo é o mais barato da linha deles. Quero qualquer dia tomar os mais caros.

Quanto à cozinha do Chico, ainda não tenho opinião completamente formada. Dêem uma olhada no vídeo! Sei de uma amiga que vai adorar.







http://st0.mais.uol.com.br/embed.swf?mediaId=5285236

sábado, 3 de julho de 2010

C'EST BON, BON, BON!


Segundo a Enciclopédia Britannica online(http://www.britannica.com/EBchecked/topic/75471/bouillabaisse), a bouillabaisse, " uma das glórias da cozinha provençal", que se faz em Marselha é tida como a mais autêntica. E, à diferença da receita que executamos no mais recente jantar-teste deste blog, o sopão leva também uma série de outros frutos do mar, além dos vegetais, é claro.
Para um morador de Marselha, no sul da França, a bouillabaise é como a feijoada para os brasileiros: um prato especial, embora de origem popular. Fuçando pela internet, descobri que o cozidão precisa levar uma boa variedade de peixes, pois é a mistura que dá o sabor. (No jantar provençal que fizemos na casa da Juliana, usamos quatro: robalo, congrio, badejo e corvina.)
É uma receita de pescadores que, ainda no barco, cozinhavam peixes de vários tipos todos juntos. Como a feijoada para nós, a bouillabaisse faz parte do imaginário popular dos franceses. Dêem uma olhada neste vídeo de Fernandel (foto), cantor e comediante francês de meados do século passado, nascido em Marselha. E, reparem, ele diz que a lagosta é necessário. Realmente as receitas variam muito!

link de canção sobre a bouillabaise interpretada pelo cantor Fernandel:
http://www.youtube.com/watch?v=l1wcGyirfzs

sexta-feira, 2 de julho de 2010

SOPÃO DE PEIXE



Segundo a Wikipedia portuguesa (por que tudo que eu pesquiso aparece na Wikipedia portuguesa e, não, na brasileira?), a bouillabaisse pode ser tanto uma sopa quanto um guisado de peixes brancos. A receita é originária da região de Marselha, no sul da França, um prato rústico, de trabalhadores do mar. Escolhemos porque, apesar de ser peixe, é um prato quente, ótimo para o inverno. A seguir a receita (em francês, por enquanto)de vários tipos de corte.

BOUILLABAISSE DES PÊCHEURS
Pour 6 personnes
temps de préparation: 20 minutes
Temps de macération: 30 minutes
temps de cuisson: 30 minutes


2,5 kg de poissons mélangés (rascasse, grondin, loup, congre, vive...)
2 grosses tomates
2 blancs de poireaux
3 gousses d'ail
6 brins de fenouil séchés
1 gros oignon
1 zeste d'orange séche
1 feuille de laurier
6 cuillerées à soupe d'huile d'olive
Sel, poivre du moulin

Videz et écaillez les poissons; coupez-les en tronçons et réservez ls têtes.
Épépinez les tomates et concassez-les. Nettoyez les blancs de poireaux et émincez-les. pelez l'oi et hachez-le. Pelez l'ail et écrasez-le sous la lame d'un couteau.
Dans un grand faitout, mettez les morceaux de poisson, le fenouil, les tomates, le poireu, l'oignon, l'ail, le zeste d'orange, le laurier, du seul et du poivre. Arrosez d'huile d'olive et laissez mariner 30 minutes à température ambiante.
Pendant ce temps, faites bouillir 2 litres d'eau avec les t~etes de poisson durant 20 minutes, puis filtrez.
Mettez le faitout contenant les troçons de poisson sur feu vif. Ajoutez le bouillon filtré. laissez frémir 10 minutes. Rectifiez l'assaisonnement en fin de cuisson.
Pour servir, reirez les morceaux de poisson à l'aide d'une écumoire. Dressez-les dans des asiettes creuses et arrosez d'un peu de bouillon. Acompagnez de pain de campagne frotté d'ail et arrosé d'huile d'olive.

Conseil: ce plat se prépare traditionnellement au retour de la pêche. les possoins trop petits sont ajoutés aux t~etes des plus gros pour parfumer le bouillon. quelque favouilles (petit crabes) et cigales de mer sont toujours bienvenues également.