Nunca fiquei tanto tempo sem postar nada. Só quando o pintor me expulsou de casa e eu me refugiei nos meus pais. Estou trabalhando feito uma camela. Está certo que camelos não almoçam no La Brasserie Erick Jacquin e jantam no Baby Beef Rubayat a trabalho, como aconteceu comigo na quinta passada. Nem são "obrigados" a degustarem um montão de vinhos, como eu vou ter de degustar amanhã (tecnicamente hoje à noite) na feira da importadora Decanter, o Decanter Wine Show. Mas, sério, ando trabalhando muito e nem tudo que eu faço é gastronomia. Além disso, por mais prazeroso que seja, o trabalho com gastronomia não deixa de ser trabalho e também cansa. Nas redações, muitas vezes, os outros jornalistas não acreditam nisso.

A trilha é muito gostosa. O grande problema é que ela tem muita espinha -- muita, muita, muita, de não dar para comer. O Jacquin disse que na França o povo chega e já pergunta se tiraram todas as espinhas. O meu francês é pobre. Pior que meu espanhol. E o livro que usamos era em francês. Por isso, fiquei sem saber direito se a gente estava fazendo a coisa certa ou não. Continuo sem saber. A Ju ainda não me mandou as traduções das receitas. Mas, pelo que eu entendi, a receita não fala nada de espinha. Nem menciona que isso é um problema. Se alguma alma caridosa que estiver lendo este blog souber bem francês, por favor, me diga (mas me diga aqui, nos comentários, para os leitores verem, não por e-mail), está dito nessa receita que é para tirar as espinhas? Eu não tirei. Como era para assar, achei que o peixe ficaria mais firme se fosse assado com a espinha dorsal inteira e que, depois, o povo podia tirar tudo de uma vez só na mesa. Ledo engano! Foi um tal de enfiar a mão na boca, levar o guardanapo à língua.
Depois, teve a história de branquear a folha de uva. Eu branqueava uma folha, enrolava um peixinho. Na hora de enrolar o seguinte, esquecia que tinha de branquear a folha. Talvez isso tenha a ver com o fato de que comecei a fazer esse serviço quase à meia-noite e de que estava tomando vinho desde às 19h. O Fran, primo da Ju, foi meu assistente. Eu enrolava a folha, ele passava o barbante. Mas, no fim, tudo deu certo. O peixe ficou lindo e muito gostoso (veja foto abaixo do prato pronto). Só as espinhas mesmo atrapalharam.

Segundo o Jacquin, eu deveria ter tirado todas as espinhas. "Você abre o peixe ao meio", explica ele, em entrevista exclusiva para A receita na pratica é outra (chique, né?). "Puxa a espinha dorsal e, depois, com uma pinça vai tirando as espinhas que sobraram uma por uma. O segredo é ter um copo d'água na frente para ir limpando a pinça."
"Nossa Jacquin! Você devia cobrar R$ 120 pelo seu menu executivo", disparei (O menu custa R$ 46) diante do fato de que a trilha da salada não tinha uma espinha sequer. "Sabe quanto tempo eu levo para limpar 5 kg de trilha? ...Quinze segundos! Hahaha! Chego na cozinha e falo: limpa!Hahaha! Limpar trilha é horrível mesmo. Eu trabalhei num restaurante em Paris que o patrão adorava limpar trilha. A gente saía, voltava, e ele estava lá, limpando..." Eu talvez devesse imitar esse exercício de paciência do antigo patrão de Jacquin. Se tivesse passado a tarde limpado as trilhas, nossos convidados não teriam jantado às 2h. A meu favor tenho a dizer que o tal restaurante onde o Jacquin trabalhou era o Le Toit de Passy. Me dêem a vista do Le Toit (o Sena e a Torre Eiffel) e eu passo o dia limpando trilhas.
La Brasserie Erick Jackin: http://www.brasserie.com.br/home.html
Decanter Wine Show: (http://www.decanterwineshow.com.br/html/informa.html)
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